Tanto faz se é homem ou mulher: o guarda-roupa profissional não deve ter como referência direta a moda proposta pelos fashionistas. Para as empresas, a roupa de trabalho deve deixar claro o comedimento e a certeza de que os gostos individuais estão, pelo menos naquele momento, anestesiados.
Assim, não é difícil encontrar na hora do almoço, nas praças de alimentação de qualquer lugar do mundo, profissionais vestidos como nas décadas de 20 ou 30 do século passado. Para quem vê, a maioria dos que desfilam nos intervalos do trabalho está, de modo geral, discretamente vestida tanto na forma das roupas como nas cores e adereços.
Claro que mudaram os materiais, os cortes e os cumprimentos, mas se pensarmos bem, no caso dos homens, os ternos ditos como elegantes continuam sendo os de corte clássico, cinza pesado e azul-marinho profundo.
O mesmo pode-se dizer da roupa feminina de trabalho, o tailleur é cada vez mais um demonstrativo de competência e o terninho um aliado das longas jornadas.
Para as mulheres, a beleza e os atributos físicos não devem se sobrepor ou fragilizar a ideia de aptidão. Está aí Sarah Palin, candidata à vice-presidência dos EUA, tida como o novo ícone da mulher executiva, que não deixa mentir.
Vestida com tailleurs mais do que clássicos e penteados que lembram os usados na década de 50, deixa transparecer o passado de Miss e a beleza apenas nos detalhes dos sapatos de saltos com os dedos dos pés à mostra, numa leve insinuação de sensualidade.
Até aí tudo bem, a vida é mesmo cheia de contra-senso, mas o paradoxo está no fato de que, na busca pela globalização, as empresas exigem de seus funcionários agilidade, criatividade, flexibilidade, arrojo e dinamismo, mas pensam na roupa de trabalho como demonstração de tradição, segurança, neutralidade e comedimento.
Excluindo os profissionais que trabalham para organizações cujos produtos estejam ligados à moda, publicidade e tecnologia de informação, que têm uma certa flexibilidade no vestuário, a maioria deve seguir normas relativamente rígidas para não destoar.
Para as mulheres, principalmente no Brasil, não existe uma moda executiva, o que dificulta ainda mais a escolha do que vestir para o trabalho. Fora meia dúzia de lojas, que vendem roupas mais discretas, a brasileira está à mercê da sua capacidade de discriminar entre o que deve ou não ser usado profissionalmente.
Além disso, o pouco que está disponível como moda executiva é caro e, na maioria das vezes, tremendamente sem charme, transformando o visual da mulher numa caricatura do que deveria ser uma profissional do nosso tempo.
A falta de modelos e de opções coloca as brasileiras numa situação complicada, principalmente no verão, quando o que é oferecido para compra é, normalmente, insinuante, leve e muitas vezes muito ousado.
Para os que têm vínculo com o mundo da moda fica uma pergunta: será que os fashionistas são mesmo tão criativos que não conseguem criar uma moda profissional que siga os pré-requisitos das empresas e o desejo dos que trabalham?
Da minha parte, uma coisa é certa: o desinteresse não é por falta de mercado consumidor, uma vez que os postos de trabalho no Brasil, para homens e mulheres, aumentam ano após ano, graças a Deus.
Fonte: Etiquetacorporativa